domingo, 24 de outubro de 2010

Do arco da música da menina do violoncelo.

De uns tempos pra cá, venho criando uma admiração por cellos. Ao primeiro olhar, eles parecem pesados, largos... Porém, ao mais leve toque de um arco, ganham um brilho que se estende junto com seu som até onde chegar.

Dizem que algumas coisas não podem ser traduzidas em palavras, porém, outras, certamente, podem ser traduzidas em sons. Sendo assim, o ruir do arco assemelha-se a uma língua estranha que, talvez, mesmo sem entendermos seu significado, podemos sentir sua beleza transcendente.



Numa bela manhã da escola de música
Ela olha pra mim e o meu coração pulsa
Ela olha pra mim e não pego em sua mão
Ela olha pra mim e canta uma canção.

Ela senta ao longe ao lado de um grosso pilar
Suas pupilas dilatam e o ar quer me faltar
Uma onda de energia percorre o meu corpo
Percebo, ao longe, a ternura de seu rosto

Percorro o seu corpo como uma lágrima no rosto
Destinada à um fim que agoniza até o pescoço
Que aproveita cada centímetro ficando cada vez mais doce
Se acaba no chão como se nunca nada fosse.

O arco em suas mãos ganha um ar distraído
O chão avermelhado parece tênue como tecido
O vento que entra esfria a atmosfera
"Por que me hipnotiza, essa garota tão bela?"

Ela me olha, eu a olho e ela olha pra mim de novo
Olhando pra ela sei que vou cair no poço
Ela sabe disso e brinca com seus dedos
Mexendo seu arco, envolvendo-me em desejo

Caio então nesse poço inacabável
Me afundo, brigo, luto; ingênuo
Meu coração grita e parece manipulável
Na luta contra o poço o inimigo é o mais sereno

Últimos momentos, os pulmões já afogados
Apenas alguns metros, nossos olhares já cansados
Uma picada de energia preenche-me, de novo
"Ei... você... me diz seu nome garoto?"



Meu nome não importa, porém teimo a falar
Sua roupa não importa, porém teima em conversar
Se eu quero não importa, já me envolvi em seu beijo
Se eu lembro não importa, o que resta eu desejo.


Numa ultima arcada de um devaneio sincero
Já a tive em meus braços e dos seus olhos teimo a lembrar
Nos meus sonhos: bobos, fortuitos, cínicos e belos
Já tive a menina que tocava violoncelo.




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